terça-feira, 30 de novembro de 2010

Enquadramento e Objectivos do Projecto


O Património do Xisto foi um projecto desenvolvido no território das Aldeias do Xisto, de parceria entre a Associação de Desenvolvimento Local Pinus Verde, e o Museu de Røros, uma cidade classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, na Noruega. Teve como base a transferência de conhecimentos entre os artesãos noruegueses e portugueses, através da intervenção em edifícios nas Aldeias do Xisto de acordo com a filosofia de preservação(conservação e reparação) do património implementada em Røros.

O principal objectivo deste projecto prende-se com a realização de obras de conservação no património edificado na Rede das Aldeias do Xisto, valorizando assim um processo actualmente em curso de melhoria da qualidade de vida das populações locais e de reforço da identidade regional, tendo em vista afirmação de um destino turístico de excelência no panorama europeu.

A ideia básica deste projecto foi proporcionar uma troca de saberes e de boas práticas em operações de conservação e reparação no património cultural em ambiente rural.

Neste caso específico pretendeu-se estabelecer um programa de workshops que consistiram em actividades de conservação e reparação em edifícios de construção tradicional onde imperam os materiais locais, a pedra de xisto e a madeira.
A parceria entre a Rede das Aldeias do Xisto e a cidade de Røros, deveu-se à possibilidade de estabelecer um laboratório de experiências e trocas de saberes in situ entre técnicos/artesãos altamente especializados. Os workshops foram realizados num contexto real de obra, juntando o conhecimento dos artistas noruegueses,  no trabalho com madeira e o conhecimento dos pedreiros do xisto portugueses no trabalho com a pedra.
Os workshops tiveram como objectivo prático a intervenção no património ao nível das fachadas de pedra e nas caixilharias e todo o tipo de estruturas de madeira. Por um lado, pretendia-se que os artistas de Røros partilhassem o seu saber no trabalho com madeira com os artistas portugueses e, por sua vez, que os artistas portugueses partilhassem o seu saber no trabalho com pedra de xisto com os artistas de Røros. Esta partilha aconteceu directamente durante as obras de conservação em património previamente seleccionado nas aldeias do xisto, com o propósito da troca de experiências entre os dois grupos. A grande vantagem deste modelo de acções reside no facto da experiência de ambos os grupos de artesãos ser uma mais-valia recíproca, ou seja, os artesão do xisto beneficiaram do contacto directo com técnicas e saberes altamente eficazes ao nível do trabalho com madeira, proporcionados pelos técnicos de Røros; e estes tiveram um contacto directo com um tipo de trabalho em pedra que lhe poderá ser útil na conservação do património de Røros.

Para que este projecto servisse futuramente de modelo à metodologia a utilizar em intervenções de conservação e reparação no património cultural edificado, importou sistematizar as actividades e dar-lhes o devido enquadramento científico e cultural. Deste modo, realizaram-se simpósios/conferências onde se debateram os trabalhos realizados no âmbito do projecto. Estes fóruns de debate contaram com a participação não só dos artesão envolvidos nos trabalhos de conservação, mas também de representantes da comunidade científica que proporcionaram o devido enquadramento formal, havendo simultaneamente a preocupação do envolvimento das comunidades locais para uma fácil apropriação das metodologias deste tipo de intervenção no património vernacular e|ou com características tradicionais. Assim, podemos afirmar que esta experiência representa um modelo a aplicar em contextos semelhantes no futuro.


Esta parceria estratégica entre Røros e as Aldeias do Xisto decorre do facto de ambos os projectos se centrarem em objectivos claros de preservação da identidade regional como forma de potenciar um destino turístico. A conservação do património cultural edificado é portanto um vector fulcral desta proposta de parceria, que tem a vantagem acrescida do tipo de material que vai ser objecto do trabalho prático ser idêntico em ambos os locais.


O ambiente de trabalho

Para que as acções previstas neste projecto tivessem um carácter durável e multiplicador no tempo, os técnicos de ambos os países mais directamente envolvidos nas acções de conservação do património foram os principais destinatários deste projecto, adquirindo as competências necessárias para que através dos seus ensinamentos retirados do projecto, pudessem passar em contexto de novas obras, as boas práticas assimiladas. Deste modo, as obras de conservação foram realizadas em módulos formativos que permitiram uma troca de conhecimentos e de técnicas elevando o nível de competências e qualificações dos artesãos. Em termos genéricos, a metodologia assentou em acções de formação baseadas em troca de experiências e técnicas de acordo com o maior grau de especialização por tipo de material. Ou seja, os artesãos envolvidos no projecto de Røros vieram às Aldeias do Xisto explicar/demonstrar as técnicas usadas nos trabalhos de construção com madeira, e os artesãos das Aldeias do Xisto demonstraram aos artistas de Røros as técnicas usadas nos trabalhos de construção com pedra, especificamente no xisto.

Os Workshops foram entendidos como um intercâmbio in situ, parte  teórica e prática nos objectos previamente identificados, em que a estrutura foi faseada da seguinte forma:
1ª fase - identificação da casa
2ª fase – apreciação do edifício em conjunto com o arquitecto, como representante da autarquia, os artesãos noruegueses e pedreiros do xisto (que seriam formadores e formandos dependendo do tipo de intervenção, caso ela fosse nas madeiras ou nas alvenarias de pedra aparente), o dono da casa como elemento activo e participante, ajudou não só a documentar o edifício no que diz respeito à história da casa, como também testemunhar todo o percurso de conservação|reparação do património que é seu. Pretendeu-se asssim gerar nele um compromisso de manutenção da intervenção a realizar.
Nesta fase realizaram-se ainda diferentes análises aos edifícios em causa, no que toca ao percurso da casa e das patologias existentes. Finalmente era elaborado um contrato que definia a metodologia e o tipo de intervenção.
3ª fase – obra física

As equipas eram constituídas por cinco artesãos noruegueses e um coordenador, Maria do Céu, e cinco pedreiros do xisto, de ambos os sexos, e um responsável por parte do parceiro português, Ana Cunha, acompanhado por um técnico identificado pelo município que acolheu a formação. Esta formação in situ, teve lugar em 3 aldeias do território da rede. No total dos workshops interveio-se em 3 imóveis nas Aldeias do Xisto.

Estas acções de formação foram acompanhadas por profissionais do sector, enquanto observadores científicos, durante três dias em cada acção, que participaram depois nas conferências e simpósios enquanto relatores e documentadores de toda a troca de experiências.

A filosofia de preservação do património implementada em Røros, é baseada nos princípios do artesão, que são os seguintes:
1. Realizar o mínimo possível de substituições;
2. Qualquer substituição necessária deve ter o mínimo impacto possível no resto do edifício;
3. A reparação não deve ser levada a cabo, se a vida útil dos elementos estruturais tiver sido demasiado curta;
4. A substituição deve basear-se na compreensão e apreço das artes e ofícios tradicionais as superfícies visíveis e a expressão dos elementos deve manter as mesmas características dos elementos substituídos;
5. O material original deve ser cuidadosamente examinado e qualquer substituição deve ter idêntica qualidade;
6. Sempre que seja necessário reforçar estruturas a adição de novos elementos e preferível a qualquer alteração estrutural;
7. Substituições, alterações e adições devem ser documentadas com a ajuda de fotografias, desenhos e descrições escritas.


Em suma, as linhas de acção desta candidatura foram as seguintes:
1. recuperação de 46 edifícios em 18 aldeias em 8 concelhos do território das Aldeias do Xisto
2. publicações técnicas e científicas que integram o guia online
3. sessões de formação in situ para artesãos
4. publicação de um Manual de Boas Práticas on line
5. organização de workshops e simpósios técnicos
6. Acções de promoção e divulgação