O Património do Xisto foi
um projecto desenvolvido no território das Aldeias do Xisto, de parceria entre a Associação de Desenvolvimento Local Pinus Verde,
e o Museu de Røros, uma cidade classificada como Património da Humanidade pela
UNESCO, na Noruega. Teve como base a transferência de conhecimentos entre os
artesãos noruegueses e portugueses, através da intervenção em edifícios nas Aldeias do Xisto de
acordo com a filosofia de preservação(conservação e reparação) do património implementada em Røros.
O principal objectivo deste
projecto prende-se com a realização de obras de conservação no património
edificado na Rede das Aldeias do Xisto, valorizando assim um processo
actualmente em curso de melhoria da qualidade de vida das populações locais e
de reforço da identidade regional, tendo em vista afirmação de um destino
turístico de excelência no panorama europeu.
A ideia básica deste projecto foi
proporcionar uma troca de saberes e de boas práticas em operações de
conservação e reparação no património cultural em ambiente rural.
Neste caso específico pretendeu-se estabelecer um programa de workshops que consistiram em actividades de conservação e reparação em edifícios de construção tradicional onde imperam os materiais locais, a pedra de xisto e a madeira.
A parceria entre a Rede das Aldeias do Xisto e
a cidade de Røros, deveu-se à possibilidade de estabelecer um laboratório de experiências e
trocas de saberes in situ entre técnicos/artesãos altamente especializados. Os
workshops foram realizados num contexto real de obra, juntando o conhecimento
dos artistas noruegueses, no trabalho com madeira e o conhecimento dos pedreiros do
xisto portugueses no trabalho com a pedra.
Os workshops tiveram como
objectivo prático a intervenção no património ao nível das fachadas de pedra
e nas caixilharias e todo o tipo de estruturas de madeira. Por um lado, pretendia-se que os artistas de Røros
partilhassem o seu saber no trabalho com madeira com os artistas portugueses e,
por sua vez, que os artistas portugueses partilhassem o seu saber no trabalho
com pedra de xisto com os
artistas de Røros. Esta partilha aconteceu directamente durante as obras de
conservação em património previamente
seleccionado nas aldeias do xisto, com o propósito da troca de experiências entre
os dois grupos. A grande vantagem deste modelo de acções reside no facto da
experiência de ambos os grupos de artesãos ser uma mais-valia recíproca, ou
seja, os artesão do xisto beneficiaram do contacto directo com técnicas e
saberes altamente eficazes ao nível do trabalho com madeira, proporcionados
pelos técnicos de Røros; e estes tiveram um contacto directo com um tipo de
trabalho em pedra que lhe poderá ser útil na conservação do património de
Røros.
Para que este projecto servisse
futuramente de modelo à metodologia a utilizar em intervenções de conservação e
reparação no património cultural edificado, importou sistematizar as actividades
e dar-lhes o devido enquadramento científico e cultural. Deste modo, realizaram-se simpósios/conferências onde se debateram os trabalhos realizados
no âmbito do projecto. Estes fóruns de debate contaram com a participação não
só dos artesão envolvidos nos trabalhos de conservação, mas também de
representantes da comunidade científica que proporcionaram o devido
enquadramento formal, havendo simultaneamente a preocupação do envolvimento das comunidades locais para uma fácil apropriação das metodologias deste tipo de intervenção no património vernacular e|ou com características tradicionais. Assim, podemos afirmar que esta experiência representa um
modelo a aplicar em contextos semelhantes no futuro.
Esta parceria estratégica entre
Røros e as Aldeias do
Xisto decorre do facto de ambos os projectos se centrarem em
objectivos claros de preservação da identidade regional como forma de potenciar
um destino turístico. A conservação do património cultural edificado é portanto
um vector fulcral desta proposta de parceria, que tem a vantagem acrescida do
tipo de material que vai ser objecto do trabalho prático ser idêntico em ambos
os locais.
O ambiente de trabalho
Para que as acções previstas
neste projecto tivessem um carácter durável e multiplicador no tempo, os
técnicos de ambos os países mais directamente envolvidos nas acções de
conservação do património foram os principais destinatários deste projecto,
adquirindo as competências necessárias para que através dos seus ensinamentos retirados do projecto, pudessem passar em contexto de novas obras, as boas práticas assimiladas.
Deste modo, as obras de conservação foram realizadas em módulos formativos que
permitiram uma troca de conhecimentos e de técnicas elevando o nível de
competências e qualificações dos artesãos. Em termos genéricos, a metodologia assentou
em acções de formação baseadas em troca de experiências e técnicas de acordo
com o maior grau de especialização por tipo de material. Ou seja, os artesãos
envolvidos no projecto de Røros vieram às Aldeias do Xisto
explicar/demonstrar as técnicas usadas nos trabalhos de construção com madeira,
e os artesãos das Aldeias
do Xisto demonstraram aos artistas de Røros as técnicas
usadas nos trabalhos de construção com pedra, especificamente no xisto.
Os Workshops foram entendidos como um intercâmbio in situ, parte teórica e prática nos objectos previamente identificados, em que a estrutura foi
faseada da seguinte forma:
1ª fase - identificação da casa
2ª fase – apreciação do edifício em conjunto com o arquitecto, como
representante da autarquia, os artesãos noruegueses e pedreiros do xisto (que
seriam formadores e formandos dependendo do tipo de intervenção, caso ela fosse
nas madeiras ou nas alvenarias de pedra aparente), o dono da casa como elemento
activo e participante, ajudou não só a documentar o edifício no que diz respeito à história da
casa, como também testemunhar todo o percurso de conservação|reparação do património que é seu. Pretendeu-se asssim
gerar nele um compromisso de manutenção da intervenção a realizar.
Nesta fase realizaram-se ainda
diferentes análises aos edifícios em causa, no que toca ao percurso da casa e
das patologias existentes. Finalmente era elaborado um contrato que definia a
metodologia e o tipo de intervenção.
3ª fase – obra física
As equipas eram constituídas por
cinco artesãos noruegueses e um coordenador, Maria do Céu, e cinco pedreiros do xisto, de
ambos os sexos, e um responsável por parte do parceiro português, Ana Cunha, acompanhado por um técnico identificado pelo município que acolheu a formação. Esta formação in situ, teve lugar em 3
aldeias do território da rede. No total dos workshops interveio-se em 3
imóveis nas Aldeias do Xisto.
Estas acções de formação foram
acompanhadas por profissionais do sector, enquanto observadores científicos,
durante três dias em cada acção, que participaram depois nas
conferências e simpósios enquanto relatores e documentadores de toda a troca de experiências.
A filosofia de preservação do
património implementada em Røros, é baseada nos princípios do artesão, que são
os seguintes:
1. Realizar o mínimo possível de
substituições;
2. Qualquer substituição
necessária deve ter o mínimo impacto possível no resto do edifício;
3. A reparação não deve ser
levada a cabo, se a vida útil dos elementos estruturais tiver sido demasiado
curta;
4. A substituição deve
basear-se na compreensão e apreço das artes e ofícios tradicionais as
superfícies visíveis e a expressão dos elementos deve manter as mesmas
características dos elementos substituídos;
5. O material original deve ser
cuidadosamente examinado e qualquer substituição deve ter idêntica qualidade;
6. Sempre que seja necessário
reforçar estruturas a adição de novos elementos e preferível a qualquer
alteração estrutural;
7. Substituições, alterações e
adições devem ser documentadas com a ajuda de fotografias, desenhos e
descrições escritas.
Em suma, as linhas de acção desta
candidatura foram as seguintes:
1. recuperação de 46 edifícios em 18 aldeias em 8 concelhos do território das Aldeias do Xisto
2. publicações técnicas e
científicas que integram o guia online
3. sessões de formação in situ
para artesãos
4. publicação de um Manual de
Boas Práticas on line
5. organização de workshops e
simpósios técnicos
6. Acções de promoção e
divulgação